"Ladies and gentlemen... John Anthony Motherfucker Frusciante", foi com essas palavras que Flea no concerto "Live at Slane Castle" se dirigiu à John, após uma breve performance de
Maybe, de The Chantels. A partir daquele show épico, passei a encarar com outros olhos aquele Red Hot Chili Peppers "clichê" que muitos me mostravam, onde se conhecia apenas seis músicas POP. Motivado por um desejo enorme de aperfeiçoar minhas habilidades na guitarra, vi naquele cara uma ótima inspiração. John Frusciante é simples, mas surpreendente. Sua música não se constitui em 1000 notas por segundo, mas sim em formas e texturas que você pode sentir, pela primeira vez ou sempre, se parar e prestar atenção em suas músicas. Por trás daquele solo simples de Californication há todo um trabalho, há quem diz que consegue ouvir o som de um teclado nessa música, ou os dois backing vocals de John.
Eu sempre digo que John Frusciante só é bom para quem tem um ouvido apurado. Hipocrisia? Nem um pouco! Por trás de distorções pesadas à lá Mother's Milk até algo totalmente experimental e lindo que podemos ouvir em The Empyrean, conhecemos um guitarrista versátil, com um grande leque de influências, passando por Jimi Hendrix, James Brown, Joey Ramone, Gang of Four, Jimmy Page, entre outros. Aquela mistura funk punk do começo se misturando com toda a virtuosidade que se ouve discretamente em Stadium Arcadium, e escancarada em The Empyrean. À aqueles que não conhecem direito o trabalho do John, se limitando a ver só aquele guitarrista do Red Hot Chili Peppers, por favor sentem num sábado de manhã e ouçam alguns discos dele, tentem entender o que a música passa, além dos clichês empregados pelo pop. Ouçam algumas músicas com seus ouvidos, concentrem-se no que ouvem... ouçam as quatro guitarras presentes em Dosed, do By The Way, apaixonem-se pelos backing vocals de Save The Population, ou taquem suas cabeças na parede ao ouvir Higher Ground. Conheçam quem é John Frusciante antes de mais nada, digo mais pelo seu trabalho solo, acompanhem o que é o espírito humano refletido em álbuns, a mais sincera e pura demonstração de "who i am" pelo próprio músico.
Provavelmente muitos que o criticam não conhecem nem um pouco do que esse homem que hoje faz 42 anos já passou na vida. Acho que muitos não conseguem imaginar um garoto rebelde dizendo loucamente à uma câmera "i'm john frusciante of the red hot chili peppers" ou imaginá-lo falando sobre masturbação, quarta dimensão e aventuras sexuais vividas em 91 durante o funky monks. Ele sim já fez de tudo um pouco na vida! Enfrentar a separação dos pais logo cedo, entrar como guitarrista em sua banda favorita aos 18 anos, com todo o peso de substituir Hillel Slovak, se aventurar entre drogas like cannabis até heroína, chegar ao fundo do poço e quase morrer aos 27 como grandes heróis da música nos deixaram. Alguém que ao chegar no seu pior inferno pessoal, gravando dois discos sinistros simplesmente para se expressar, e conseguir dinheiro para comprar mais heroína, então ele se levanta e diz "estou bem!" e faz aquela volta triunfal em Californication. Arrisco-me a dizer que o Red Hot Chili Peppers não seria o que é hoje se não fosse por John. Muitos consideram isso como algo ruim, pois tirou o Tony Flow and The Miraculously Majestic Masters of Mayhem do underground e colocou-os nos holofotes da MTV. John demorou para encontrar sua paz interior, e fez tudo na vida de acordo com seus desejos, não porque era pra agrado de outros. O sistema? Foda-se o sistema! Estão explorando minhas habilidades musicais para enriquecer terceiros. Vou sair dessa porra. Eis que em 92 ele deixa os Peppers naquele que era considerado o "auge" da banda. Voltando em 1998, prosseguiu até meados de 2009, onde novamente decidiu abrir mão da banda. Hoje ele aparece de vez em quando, algumas fotos, muitos boatos, uma longa barba, cabelo grande. É o John, simplesmente.
Em abril nós fãs do Red Hot Chili Peppers estaremos na torcida para vê-lo, quem sabe, no Rock n Roll Hall of Fame, onde os ex integrantes, e os atuais, serão homenageados (merecidamente) pelos 29 anos de banda. Todos serão lembrados, inclusive o John. Que me desculpem Anthony, Flea, Chad, Hillel, Josh... mas sem ele, não imagino um Red Hot de Under The Bridge, Breaking The Girl, Dosed, Wet Sand entre outras músicas que poderia ficar citando aqui sem ele. John Frusciante será pra sempre um membro querido dessa banda incrível. Espero conseguir representar através desse texto um pouco da admiração que tenho por ele.
Parabéns John!